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domingo, 23 de março de 2014

Tijuca, Paulo e Mocidade - Parte I

Não dá pra começar um blog de carnaval hoje em dia, sem que o assunto seja a Unidos da Tijuca e tudo que cercou a escola de 2004 até 2014. 
O estilo profissionalizante de seu presidente Fernando Horta. O carro do DNA e os dois barulhentos e justos vice-campeonatos de 2004 e 2005. O injusto sexto lugar de 2006 e a separação típica do 'casal sem vergonha' após o desfile. A reconciliação e o apoteótico "Segredo" abrindo o caminho dos três títulos. O julgamento contestado deste ano. E é claro, Paulo Barros.
Mas este último será assunto apenas na próxima postagem.
Um desafio à vocês: Vamos tentar lembrar o que sentíamos e pensávamos quando a Unidos da Tijuca estava prestes a entrar na avenida, em 2004. 
A escola foi a terceira a desfilar no domingo de carnaval com o dificílimo enredo "O sonho da criação e a criação do sonho. A arte da ciência no tempo do impossível". O carnavalesco? Um desconhecido Paulo Barros. Era mais uma escola média que ficaria no meio da tabela ou até mesmo brigaria para não cair. 
Aliais, quem teve a oportunidade de ver as alegorias da Escola antes daquele desfile, dava a briga contra o rebaixamento como uma possível realidade.
Além disso, desfilar no domingo ainda era visto como péssima posição, afinal, apenas quatro escolas na era Sambódromo ganharam o título desfilando no primeiro dia, até a Vila Isabel 2006. 
Então veio a surpresa que inicia todo esse processo.
Sim, ali Paulo Barros e Unidos da Tijuca criam um novo rumo para o carnaval. 
Méritos do presidente que não só aposta no jovem talento vindo do Paraíso do Tuiuti, como dá a ele liberdade de criação. Tiro certo! 
É bom que se diga, que sem Fernando Horta nada disso teria acontecido. É dele as idéias de Mestre Casagrande na Cadência do Samba, Ricardo Fernandes na direção de carnaval, em 2010, e Bruno Ribas comandando o carro de som em substituição a Wantuir, no mesmo histórico ano.
E os Deuses do Carnaval foram ainda mais ousados. 
Em 2010, a Tijuca é campeã após um jejum de 74 anos, na mesma malfadada posição de desfile onde tudo começou. A terceira de domingo.
Então vem a pergunta: A mais nova maneira de fazer carnaval criada, é o estilo Tijuca de ser ou a marca inconfundível de Paulo Barros?
O grande desafio da escola do Borel na concepção do carnaval de 2015, será escolher como quer que daqui pra frente, público e mídia a veja. 
Será a escola que consegue se reinventar a medida que descobre um novo talento? Teria ela que achar um carnavalesco com características parecidas com seu antecessor? Seguir o modelo consagrado ou mesclar o que "descobriu" nos últimos onze carnavais com a tradição dos desfiles anteriores a essa 'nova Era'?
Cabe lembrar que durante o tempo citado, a escola e Paulo Barros deram 'um tempo' no relacionamento. 
Nesse período, em 2007 e 2008, a escola voltou duas vezes ao desfile das campeãs mas sem disputar o título. Em 2009, nem isso, amargando a nona colocação. 
Paulo, por sua vez, foi ainda pior. 
Nos dois primeiros anos ficou atrás de sua antiga empregadora. Em 2007 quinto e em 2008 sétimo, ambos na Viradouro. Em 2009, num processo de desenvolvimento de Carnaval já iniciado, vai ajudar o agora disputadíssimo Alex de Souza, na Vila Isabel, a desenvolver um desfile sobre o centenário do Teatro Municipal. Ficou em quarto lugar.
Em 2010 não é segredo pra ninguém o que aconteceu (péssimo o trocadilho, hein?)! A reconciliação com a volta pra casa e o gosto da champanhe no lugar mais alto do pódio.
Então, quem fará mais falta a quem? 
Existe vida nas primeiras colocações para a Tijuca após Paulo Barros? 
Uma Escola de Samba com um estilo próprio não se força. Ou sua história lhe fez marcar um, ou não!
Se a Tijuca engessar esse estilo como seu, ficará refém de carnavalescos específicos e com a eterna obrigação de encontrar um novo fenômeno. Além disso, cada vez que houver um insucesso, os comentários de "viu como sem ele a escola volta a ser média" serão inevitáveis. O ideal é que o carisma continue sendo sua principal arma. Para isso, precisa encontrar nessa nova era, algo que novamente chame atenção do público. 
Não precisa ter uma comissão de frente mágica e nem alegorias que falam, pensam e se reproduzem. 
Precisa encantar! 
Precisa sim ser como as bruxas, os vampiros e os fantasmas da vida de 2005. Precisa sim fazer mistério como em 2010. 
Mas precisa também ter uma pitada de Portela, Salgueiro e Ilha 2014! Terá que aprender a chocar com outras armas. Armas que a escola vai ter que descobrir quais são e eu acredito que isso vá demandar um tempo. 
É preciso tempo para se refazer de qualquer fim de relacionamento. 
Mas para a abandonada, é sempre mais difícil.

Aquele abraço!

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