segunda-feira, 7 de abril de 2014

O mal que o bem pode fazer

Já imaginaram o mal que algumas coisas fazem mesmo aparentando significar sucesso?
Podemos comparar com o futebol.
Qualquer vascaíno minimamente entendedor de futebol, sabe o mal feito ao seu clube pelo ex presidente, Eurico Miranda. Mas sabem também, a quantidade de títulos que sua gestão deixou na Colina.
Como esse, existem dezenas de exemplos de outros clubes grandes no Brasil com o mesmo histórico.
No Carnaval acontece algo semelhante.
A atual administração da Vila Isabel por exemplo, deu mais títulos à Escola do que Martinho da Vila. O dobro, aliais! Mas falaremos da Vila mais abaixo.
Estava no desfile das campeãs deste ano e nada foi mais alegre para o público do que Portela, Ilha e Salgueiro. Para a mídia também.
Mas para mim, não foi apenas por terem sido os melhores desfiles do ano.
A Ilha fez algo que uma Escola de Samba não fazia há muito tempo. Fazer mídia e público entender todo seu desfile sem precisar de nenhum guia. Nos fez viajar! Foi o desfile mais divertido que lembro de ter visto em muito tempo.
E como isso foi importante pro Carnaval! Como é importante termos a Ilha de volta!
Como eles cantaram em 2009: "Ô, a União voltou!".
E a Portela?
Lembro de estar em frente ao setor 1, em 2008. A Escola retornou em quarto ao desfile das campeãs após dez anos de jejum, com o enredo "Reconstruindo a natureza, recriando a vida. O sonho vira realidade", de Cahê Rodrigues.
Os cometários mais ouvidos, quando entre o abre-alas e o carro de som, amontoavam-se três fileiras de pessoas eram: 'Isso porque foi quarta. Se ganha, não cabe na avenida'.
Pois foi mais ou menos o que aconteceu sábado, 8 de março deste ano. O público "se confundiu" e achou que a Portela tinha sido campeã do Carnaval! Foi Apoteótico!
E como isso fez bem ao Carnaval!
Assim foi a Unidos da Tijuca nesta década. E a Viradouro este ano, na Série A.
Assim foi a Beija-Flor, quebrando a supremacia Leopoldinense, na década passada.
E assim será, a minha nova candidata a renascer das cinzas, Mocidade Independente.
Mas, falando em 'renascer das cinzas', vem a ironia e o contra ponto.
Como o título de 2013 fez mal a Vila Isabel!
Como mascarou problemas gravíssimos!
E ainda assim, os Deuses do Carnaval são tão misericordiosos, que deixaram de consolo à comunidade um samba antológico!
Como fez mal à própria Escola, a permanência no Grupo Especial em 2014.
Mexeu com a dignidade da comunidade, quase como o portelense se sentiu em 2005 quando a Tradição livrou a escola do descenso.
Como fez mal à Formiga e ao Grupo Especial, o rebaixamento do Império da Tijuca. Isso desmotiva uma comunidade que é fantástica.
E ainda respingou na São Clemente. Como ficou atrás da Escola de Noel, abrirá os desfiles de segunda-feira, em 2015, posição que ninguém gostaria de estar.
Tanta coisa pra discutir e o assunto julgamento volta à tona.
Isso sim, é pior ainda para o Carnaval.

Aquele Abraço

Tijuca, Paulo e Mocidade - Parte II

Na postagem anterior perguntei: Existe vida nas primeiras colocações para a Tijuca após Paulo Barros?
Mas o carnavalesco por sua vez, é tão forte assim longe de sua zona de conforto e onde é amado incondicionalmente?
A saída após o Carnaval de 2006 foi diferente, não dá pra comparar. Era um imaturo carnavalesco. Achava que alegoria resolvia o Carnaval (será que estava tão errado assim? Assunto para outra postagem). Tinha um conjunto de fantasias abaixo do nível esperado. Não conseguia amarrar bem seus desfiles (vide "É de Arrepiar", de 2008). O fio condutor de seus enredos era inexistente e alguns desfiles eram baseados em motes. 
Agora, é um consagrado tri campeão, com todos os méritos possíveis!
Não acredito que um sucesso meteórico na Mocidade leve a um título já em 2015. 
É como um jogador de futebol que vai para Europa, depois de vários anos no mesmo clube brasileiro (qualquer semelhança com fatos, nomes ou acontecimentos reais terá sido mera coincidência). Há de se considerar o tempo de adaptação. 
Mas em circunstâncias normais, tenho certeza do casamento feliz e longínquo a médio prazo.
Não me interessa os motivos que fizeram o Fenômeno mudar de ares. O fato é, sua frase de despedida foi muito forte para o fim de uma relação de oito carnavais e três títulos. 
Mas não podia ter escolhido destino melhor. 
Adoro a frase de Luis Carlos Magalhães de que a Mocidade é a mais sensual das escolas. 
Com o investimento que o novo patrono colocará na escola e a equipe que esta sendo formada ele tem tudo para brilhar. 
Mas a escolha certa não se deu por esses motivos. 
Olha que exercício interessante para fazermos. Se você pudesse voltar no tempo e em 2004 descobrisse Paulo Barros e seu estilo, qual escola você acharia ser a 'cara dele'? Podem deixar seus comentários com outras opções mas acho que a maioria lembraria da escola de Arlindo Rodrigues, Fernando Pinto e Renato Lage.
Carnavalescos que não foram 'apenas' campeões mas criaram e marcaram um estilo que moldou a personalidade da escola. 
É como se a evolução histórica da Mocidade tivesse reservado um lugar e apenas esperasse por Paulo Barros. 
Se encaixa com perfeição na timeline de Padre Miguel. 
E desde a criação do "carnaval hi-teck", de Renato Lage, na década de 90, que não desembarcava na Zona Oeste alguém tão próximo de retomar essa história. 
Mas nem tudo são flores. 
Paulo pode estar, de uma determinada maneira, estacionado. 
Seu Carnaval de 2014 foi simples e comum, mas também, típico de quem estava de saco cheio com alguma coisa. E isso, pode explicar sua declaração ao apagar das luzes azuis e douradas.
Rendeu-lhe um título, é verdade, mas bem discutível do ponto de vista artístico. Tecnicamente perfeita! 
Nada me tira da cabeça, e acredito que ele nunca admitirá, mas esse título foi surpresa pra ele. Não esperava mesmo! Um dia perguntarei.
Se tivesse ficado em quarto este ano, não geraria na mídia nem no público, os mesmos questionamentos que foram feitos por exemplo, com a sexta colocação de 2006. 
Essa repetição de fantasias que reproduzem perfeitamente personagens já existentes, como em "Essa noite levarei sua alma", de 2011, não é fantasia de escola de samba é fantasia de bloco de Carnaval. No 'Imprensa que eu gamo' seria um sucesso e pegaria geral!
Respondendo à segunda pergunta dessa postagem, Paulo Barros é um ídolo. Ame ou odeie, onde ele for, será ídolo. 
Pergunte ao torcedor da Viradouro o que acha de 2007 "A Viradouro vira o jogo". 
O samba mediano foi parar na arquibancada do Maracanã com a torcida do Flamengo. 
O desfile apenas razoável, teve um carro alegórico invertido de rara genialidade. 
Paulo Barros irá continuar um sucesso e ainda será campeão algumas vezes! 
A Unidos da Tijuca também! 
Mas num futuro próximo, vejo águas muito mais turbulentas no Borel do que na Vila Vintém.
Sinto por meus vizinhos.

Aquele abraço!

domingo, 23 de março de 2014

Tijuca, Paulo e Mocidade - Parte I

Não dá pra começar um blog de carnaval hoje em dia, sem que o assunto seja a Unidos da Tijuca e tudo que cercou a escola de 2004 até 2014. 
O estilo profissionalizante de seu presidente Fernando Horta. O carro do DNA e os dois barulhentos e justos vice-campeonatos de 2004 e 2005. O injusto sexto lugar de 2006 e a separação típica do 'casal sem vergonha' após o desfile. A reconciliação e o apoteótico "Segredo" abrindo o caminho dos três títulos. O julgamento contestado deste ano. E é claro, Paulo Barros.
Mas este último será assunto apenas na próxima postagem.
Um desafio à vocês: Vamos tentar lembrar o que sentíamos e pensávamos quando a Unidos da Tijuca estava prestes a entrar na avenida, em 2004. 
A escola foi a terceira a desfilar no domingo de carnaval com o dificílimo enredo "O sonho da criação e a criação do sonho. A arte da ciência no tempo do impossível". O carnavalesco? Um desconhecido Paulo Barros. Era mais uma escola média que ficaria no meio da tabela ou até mesmo brigaria para não cair. 
Aliais, quem teve a oportunidade de ver as alegorias da Escola antes daquele desfile, dava a briga contra o rebaixamento como uma possível realidade.
Além disso, desfilar no domingo ainda era visto como péssima posição, afinal, apenas quatro escolas na era Sambódromo ganharam o título desfilando no primeiro dia, até a Vila Isabel 2006. 
Então veio a surpresa que inicia todo esse processo.
Sim, ali Paulo Barros e Unidos da Tijuca criam um novo rumo para o carnaval. 
Méritos do presidente que não só aposta no jovem talento vindo do Paraíso do Tuiuti, como dá a ele liberdade de criação. Tiro certo! 
É bom que se diga, que sem Fernando Horta nada disso teria acontecido. É dele as idéias de Mestre Casagrande na Cadência do Samba, Ricardo Fernandes na direção de carnaval, em 2010, e Bruno Ribas comandando o carro de som em substituição a Wantuir, no mesmo histórico ano.
E os Deuses do Carnaval foram ainda mais ousados. 
Em 2010, a Tijuca é campeã após um jejum de 74 anos, na mesma malfadada posição de desfile onde tudo começou. A terceira de domingo.
Então vem a pergunta: A mais nova maneira de fazer carnaval criada, é o estilo Tijuca de ser ou a marca inconfundível de Paulo Barros?
O grande desafio da escola do Borel na concepção do carnaval de 2015, será escolher como quer que daqui pra frente, público e mídia a veja. 
Será a escola que consegue se reinventar a medida que descobre um novo talento? Teria ela que achar um carnavalesco com características parecidas com seu antecessor? Seguir o modelo consagrado ou mesclar o que "descobriu" nos últimos onze carnavais com a tradição dos desfiles anteriores a essa 'nova Era'?
Cabe lembrar que durante o tempo citado, a escola e Paulo Barros deram 'um tempo' no relacionamento. 
Nesse período, em 2007 e 2008, a escola voltou duas vezes ao desfile das campeãs mas sem disputar o título. Em 2009, nem isso, amargando a nona colocação. 
Paulo, por sua vez, foi ainda pior. 
Nos dois primeiros anos ficou atrás de sua antiga empregadora. Em 2007 quinto e em 2008 sétimo, ambos na Viradouro. Em 2009, num processo de desenvolvimento de Carnaval já iniciado, vai ajudar o agora disputadíssimo Alex de Souza, na Vila Isabel, a desenvolver um desfile sobre o centenário do Teatro Municipal. Ficou em quarto lugar.
Em 2010 não é segredo pra ninguém o que aconteceu (péssimo o trocadilho, hein?)! A reconciliação com a volta pra casa e o gosto da champanhe no lugar mais alto do pódio.
Então, quem fará mais falta a quem? 
Existe vida nas primeiras colocações para a Tijuca após Paulo Barros? 
Uma Escola de Samba com um estilo próprio não se força. Ou sua história lhe fez marcar um, ou não!
Se a Tijuca engessar esse estilo como seu, ficará refém de carnavalescos específicos e com a eterna obrigação de encontrar um novo fenômeno. Além disso, cada vez que houver um insucesso, os comentários de "viu como sem ele a escola volta a ser média" serão inevitáveis. O ideal é que o carisma continue sendo sua principal arma. Para isso, precisa encontrar nessa nova era, algo que novamente chame atenção do público. 
Não precisa ter uma comissão de frente mágica e nem alegorias que falam, pensam e se reproduzem. 
Precisa encantar! 
Precisa sim ser como as bruxas, os vampiros e os fantasmas da vida de 2005. Precisa sim fazer mistério como em 2010. 
Mas precisa também ter uma pitada de Portela, Salgueiro e Ilha 2014! Terá que aprender a chocar com outras armas. Armas que a escola vai ter que descobrir quais são e eu acredito que isso vá demandar um tempo. 
É preciso tempo para se refazer de qualquer fim de relacionamento. 
Mas para a abandonada, é sempre mais difícil.

Aquele abraço!